
Brasileira presa no Camboja está em cadeia superlotada, com registros de morte e inundação; saiba como é o local
Após ser atraída para uma falsa promessa de emprego, e se recusar a aplicar golpes na internet, a arquiteta brasileira Daniela Marys de Oliveira, de 35 anos, foi presa no Camboja, e está há sete meses detida na Prisão Provincial de Banteay Meanchey. A cadeia, localizada no norte do país, é conhecida por ir além da capacidade máxima de presidiários, além de casos de inundações e morte de prisioneiros. De acordo com o site Camboja News, a prisão vive uma "superlotação severa" e atrasos de atendimentos médicos, que culminaram na morte de um prisioneiro em março. São Paulo: Ao menos três casos de intoxicação por metanol em SP estão ligados a fábrica clandestina de família no ABC, diz polícia Crime: PM recebeu dez novos pedidos de escolta de autoridades depois da morte de ex-delegado-geral de São Paulo Um homem de 22 anos chamado Leap Chantha foi preso em Banteay Meanchey em dezembro de 2023 por posse e transporte de armas sem permissão, violência intencional, roubo e uso de drogas ilegais. Ele havia sido sentenciado a três anos e já tinha cumprido um ano e dois meses da pena na época da morte. Chantha chegou a ter atendimento, mas morreu devido a um problema no coração e falta de oxigenação cerebral. A família questionou a coordenação da prisão por não ter sido notificada imediatamente. O pai do prisioneiro morto afirmou na época que o filho havia reclamado da superlotação na prisão. Um levantamento do Licadho, grupo defensor de direitos humanos do Camboja, mostra que as prisões do país operam a 200% da capacidade em algumas instalações. Em 2013, 842 prisioneiros da Banteay Meanchey foram evacuados para outras instalações após a prisão ter sido atingida por uma inundação. O nível da água, de acordo com publicações da época, chegou à altura do pescoço dos detentos em alguns locais. Naquele ano, as fortes chuvas e a enchente do rio Mekong causaram a morte de pelo menos 104 pessoas, afetando 1,5 milhão de pessoas em três semanas. Tráfico internacional Assim como já aconteceu com outros brasileiros, a arquiteta teria sido vítima de uma rede de tráfico humano internacional que leva estrangeiros até países do Sudeste Asiático, onde existem complexos de prédios mantidos por máfias locais dedicadas a cometer crimes virtuais. Aos familiares, a brasileira relatou no início do ano ter recebido uma proposta de emprego para trabalhar com telemarketing no Camboja. O contrato prometido seria temporário, de seis meses a um ano, e ela pretendia retornar ao Brasil em seguida. Daniela embarcou para o Camboja no dia 30 de janeiro. — Quando ela chegou, mandou para nós a localização. Começamos a achar muito estranho: era um complexo afastado da capital, próximo da fronteira com a Tailândia — diz Lorena, irmã de Daniela — Assim que ela entrou lá, pegaram o passaporte dela. Não tinha como ela sair. É um local sem comércio, sem estrada, sem nada. Segundo Lorena, ao longo do mês de fevereiro, novas vítimas do esquema foram chegando ao complexo. Em março, o treinamento para o suposto emprego teve início, e Daniela de Oliveira percebeu que seria obrigada a cometer golpes na internet. Ela se negou a continuar no local e pediu para sair, mas foi avisada de que deveria pagar uma multa. Daniela Oliveira foi vítima de rede de tráfico humano e atraída até o Camboja para aplicar golpes Divulgação Os familiares de Daniela afirmam que, após esse episódio, drogas foram plantadas na bagagem da brasileira, que acabou presa. Ela deverá ser julgada por posse e uso de drogas no dia 23 de outubro. Não foi especificado quais seriam as substâncias encontradas nas malas. Outros casos: Homem que traficou brasileiros à máfia chinesa em Mianmar é condenado a 18 anos de prisão Lorena afirma que, nos dois dias seguintes à prisão de Daniela, a família passou a ser extorquida por criminosos se passando pela irmã. Cerca de R$ 27 mil foram repassados aos criminosos. — Eles ficaram com todos os pertences dela, inclusive o celular. Com ele, começaram a mandar mensagem para nós, se fazendo passar por ela. Falaram que tinha uma multa a ser paga. Percebemos que não era ela por conta dos erros de ortografia e também perguntamos coisas íntimas — diz Lorena. A família conseguiu falar com a arquiteta apenas no dia 29 de março. Daniela relatou o que havia acontecido nos últimos dias e falou que havia pedido para fazer um teste toxicológico, o que foi negado. Na prisão, ela enfrenta dificuldades para se comunicar por não falar a língua local, mas uma ONG local conseguiu um advogado para defendê-la no julgamento da próxima semana. No momento, a família realiza uma vaquinha virtual para ajudar a trazer a brasileira de volta ao país. O objetivo é arrecadar R$ 60 mil reais para pagar advogados, custo das passagens e comprar itens básicos. Procurado, o Itamaraty disse que tem conhecimento do caso, que é acompanhado pela Embaixada do Brasil em Bangkok. "A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas", diz a nota.